A Fibromialgia é uma condição
dolorosa que é caracterizada por dor musculo esquelética difusa e crônica,
acompanhado de disfunção do sono, fadiga, queixas cognitivas. (Walfe et al,
2010). É classificada como uma dor nociplástica, que é definida como dor decorrente de uma
alteração da nocicepção, sem evidencia de dano tecidual ou somatossensitivo. No
Brasil sua prevalência é de 2,5% em população acima de 16 anos, 7,5 vezes mais
comum em mulheres, sendo 75% dos casos em pacientes entre 35 e 54 anos (Senna
et al 2004)
A fisiopatologia envolve fatores
genéticos, disfunção neuroendócrina, neurotransmissora e neurossensorial, que
normalmente possui um evento disparador que desencadeia a condição, como por
exemplo: Infecção em doenças reumáticas inflamatórias; infecção por
Epstein-Barr, Parvovírus, Brucelosis, Doença de Lyme; Traumatismo de coluna e
Estresse psicológico
A genética fornece papel
importante. Fibromialgia encontrado 8 vezes mais caso o indivíduo tenha algum
familiar de primeiro grau com a doença. É estudado a relação entre SFM e polimorfismo
nucleotide isolado do gene transportador de serotonina e do receptor da
dopamina D4(DRD4), além da relação com a variante COMT.
Quanto aos neurotransmissores,
vamos encontrar no paciente fibromiálgico alteração nas concentrações de
neurotransmissores séricos e no LCR. Dentre eles citamos diminuição da
serotonina e dopamina, elevação dos
níveis de substância P, do fator de crescimento nervoso e do glutamato, que
aumenta atividade neuronal na ínsula posterior(alodínea/ hiperalgesia). Todos
relacionados com a resposta ao estímulo doloroso.
Importante citar a redução de
receptores mu-opióides centrais na SFM, possível razão pela eficácia reduzida
do opioide exógeno, como o tramal, em doentes com SFM
O paciente fibromiálgico possui
um processamento anormal na medula espinal e no sistema nervoso central, com hipersensibilidade
generalizada para estímulo doloroso, espontâneo e não somente nos pontos dolorosos,
mas também nos pontos controle(gatilho). Há uma deficiencia no sistema
inibitório descendente o que deixa o paciente com um menor limiar de dor para
estímulos: térmico, mecânico, elétrico, químico em nível de pele, subcutâneo e
ou músculo
Podemos encontrar também
alteração no eixo hipotálamo pituitário adrenal, com baixos níveis de cortisol
24h e concentração anormal do cortisol no ciclo circadiano, além de alteração
no eixo hipotálamo hipófise tireoide, em que liberação do hormônio liberador de
tireotropina é reduzida, levando a uma redução de tireotropina, triiodotironina
e tiroxina. Como temos alteração no sono, devido interrupção do sono na fase 4,
temos também secreção alterada hormônio crescimento.
Hipótese Diagnóstica e Exames
Quando a gente tem a hipótese
diagnóstica de Fibromialgia temos que dar o diagnóstico baseados pela clínica
apresentada pelo paciente. Pedimos exames apenas para afastar outras possíveis
doenças que possam ter quadro semelhante, como a Artrite Reumatóide, Lupus
Eritematoso Sistemico, Alterações endócrinas, Espondiloartrite Axial,
Polimialgia Reumática, entre outras No entanto podemos encontrar alterações em
exames de imagem, apesar de não serem necessários para realização do
diagnóstico e nem pedidos normalmente na prática clínica
Ao fazermos SPECT Cerebral-
hipofluxo sanguíneo no núcleo caudado e no tálamo
Na Ressonância Magnética
funcional, podemos ver respostas aberrantes à dor em áreas do córtex insular,
córtex somatossensorial, córtex cingulato anterior e posterior
A Fibromialgia é uma doença
frequentemente subestimada pelos médico, o que leva ela a um atraso do
diagnostico, em média superior a 2 anos de início dos sintomas, após passar de
3 a 4 médicos diferentes.
Diagnóstico
Para fazer o diagnóstico
utilizamos os critérios proposto pelo Colégio Americano de Reumatologia.
Em 1990 foi proposta para
diagnosticar fibromialgia que o paciente apresentasse múltiplos pontos
dolorosos(avaliados durante o exame físico) e dor crônica generalizada. Apesar
de ser o critério que muitos médicos possuem em mente ao se pensar em
Fibromialgia, ele foi atualizado e não é mais suficiente para se dar o
diagnóstico

Em 2010
foi tivemos uma atualização em que introduziram os escores Índice de Dor
Generalizada(IDG) e a Escala de Gravidade dos Sintomas(EGS), que tornaram-se
necessários para a realização do diagnóstico da Fibromialgia desde então. O
Índice de Dor Generalizada é calculado levando em contas os locais em que o
paciente possui dor, variando de 1 a 19. A Escala de gravidade dos sintomas
leva em consideração a fadiga, sono, déficit cognitivo e sintomas somáticos, de
acordo com sua intensidade, variando de
0 a 12
Para
diagnosticar Fibromialgia, segundo proposto em 2010, o paciente deveria
apresentar:
1-Indice Dor Generalizada >= 7
e Escala de Gravidade de Sintomas >= 5 ou IDG 3 a 6 e EGS>=9
2- Sintomas om valores similares
durante 3 meses
3- Ausência de desordem que
explique a dor
Fibromialgia se (IDG+EGS)>= 13
Uma ultima
atualização, a atual neste momento, ocorreu em 2016, em que as seguintes
condições foram estabelecidas:
1- Dor generalizada, como dor em pelo menos 4 de 5 regiões, está presente(tronco,MMSS, MMII)
2- Os
sintomas estão presentes em um nível semelhante há pelo menos 3 meses
3- 3- IDG>=7
e EGS >= 5 ou IDG 4-6 e EGS>=9
4- 4- O
diagnóstico de fibromialgia é válido independentemente de outros diagnósticos
Um
diagnóstico de fibromialgia não exclui a presença de outras doenças
clinicamente importantes
(Wolfe
F et al. Semin Arthritis Rheum 46:319-329, 2016)
Como alternativa,
podemos utilizar a Ferramenta de triagem rápida de SFM(FIST), em que o paciente
responde 6 perguntas. Se responder positivo para 5, considera-se como positivo
o questionário.
1- Eu
tenho dor no corpo
2- A
minha dor é acompanhada de fadiga geral continua e muito desagradável
3- Eu
sinto a minha dor como queimação, choque elétrico ou câimbras
4- A
minha dor é acompanhada de outras sensações inusuais no meu corpo, como
alfinete e agulhas, formigamento ou adormecimento
5- A
minha dor é acompanhada por outros problemas de saúde como problemas
digestivos, problemas urinários, dores de cabeça ou pernas inquietas
6- A
minha dor tem um impacto significativo na minah vida, particularmente no meu
sono e na minha capacidadede concentração, geralmente fazendo sentir meio
devagar
5
de 6- fibromialgia
(Perrot
S et al. Pain 2010; 150:250e6)
Tratamento
É baseado no tripé Atividade
Física, Terapia Cognitivo Comportamental e Medicações. Para ter um resultado
positivo é essencial que as 3 frentes sejam abordadas com igual atenção.
Exercícios Físico
Exercícios físicos induziram a
normalização da conectividade entre insula direita e a região córtex
sensitivo-motor esquerda em SFM(coorte) após 3 meses em um estudo realizado em
2015, em que foi usado um questionário específico(FIQ) para acompanhar a
evolução dos sintomas da Fibromialgia após início da pratica de exercícios
físicos. (Flodin et al J Neuroimage
Clinical (2015) 134-139)
O Consenso brasileiro
tratamento da SFM atual orienta a realização de exercícios moderados (60 a 75% da FC máxima) de 2 a 3x por semana, com cuidado para pacientes com Hipermobilidade, para evitar dor induzida pelo exercício.
(Ver Brasileira
Reumatologia 2010; 50(1) 56-66)
Terapia Cognitivo Comportamental
O principal objetivol objetivo é modificar
comportamentos negativos em atitudes positivas (Foster et al, 2007).
A redução da dor e melhora da qualidade de
vida ocorreu quando TCC foi associado a educação e terapia de exercícios em uma
abordagem multidisciplinar (Hauser et al, 2009).
O
objetivo dos programas educacionais é fornecer informações aos doentes sobre o
gerenciamento de auto cuidado, a importância das atividades físicas e técnicas
de relaxamento, habilidade de enfrentamento da dor e estratégias individuais
para a mudança comportamental(Van Koulil et al, 200)7
Medicamentos
Diversos
medicamentos podem ser utilizados para o tratamento para Fibromialgia, sendo
prescritos individualmente de acordo com quadro de cada paciente.
Temos
sempre que levar em conta quais são os sintomas que mais interferem em sua
qualidade de vida. Se é mais acometida devido às dores, ao sono ou por estados
emocionais como depressão ou ansiedade. De acordo com o quadro, podemos
conseguir uma melhor escolha de medicamentos.
As
melhores drogas, considerando nível de evidência, são a Amitriptilina,
Duloxetina, Milacipran e Pregabalina. Todas estas possuem nível 1A de
evidência. Logo em seguida, com nível 1B de evidência, temos a Gabapentina. Com
nível 1C temos a Ciclobenzaprina e a Floxetina. E por último com nível 2B,
temos a Paroxetina e o Tramadol.
(Sommer C. Pain
clinical updates 2010 vol XVIII 4: 1-4 )
Há algumas evidências de que terapias
alternativas tem eficácia em doentes com SFM como massagem tradicional chinesa,
acupuntura e Tai Chi Chuan. Como vantagens, temos menos eventos adversos, porém
a eficácia é de curta duração e em pequena escala de estudo comparado
controlado e randomizado
A
Fibromialgia é uma doença em que o tratamento integral do paciente é essencial,
necessitando uma avaliação multidisciplinar, em que todos os envolvidos estejam
alinhados para poder fornecer o tratamento adequado a o paciente,
abordando física e mentalmente.